Moratória para ser

Sou quem tenho sido. Não sou em absoluto (nada). Vou sendo alguma coisa, por um tempo. Mudo. Naquela estação, aquilo eu fui. Agora, isso eu vou sendo. E enquanto vou sendo, vou tentando também ser certa coisa que pretendo ser. Quem tenho sido vai o sendo, enquanto tenta antingir uma qualidade suprema de ser.
Minha maior aspiração é ser total. Não quero mais pertencer ao que vou sendo. Almejo me libertar desta condição de gerúndio e me dispensar deste ente particípio; que não é nada, mas que nos desdobramentos da vida vai sendo, por ser imprescindível ser alguma coisa. A vida nos faz essa exigência.
Só serei plena quando eu for conjugada num pretérito mais que perfeito, feito por completo. Fora. Amara. Fizera. Quando acabar o tempo. Acabara. No dia da minha morte, serei. Não fragmento do que fui. Na lacuna entre o meu derradeiro milésimo de segundo de vida e a minha partida, serei. Simplesmente, serei.
Logo que fui. Efêmero é ser.
(Hoje tentei ser poesia, mas só consegui ser prosa).

3 comentários:

Anônimo disse...

ser gerúndio é bom. mudar é bom, estar em constante mudança é bom! ler seus textos tbm é bom! :)
beijoca, pati!

ArthurGama. disse...

me dá um autógrafo?

Vinicius Baratta! disse...

E tem horas que prosa é poesia Patê...

Baratta