Volta

A menina gritava, olhando para cima. Alçou os braços e reuniu toda a sua força para um salto. Durante o pulo, esticou todos os músculos, alongou todas as vértebras, cresceu quatro centímetros e distendeu toda a sua alma. Abriu-se. Tinha que alcança-lo para trazê-lo de volta, ao chão; para cuidá-lo, para levá-lo para casa. Saltou para abraçá-lo, e se não conseguisse, queria pelo menos tentar tocá-lo, enquanto ele partia. Nem que fosse com as pontinhas dos dedos. Mas estava num cume de ar que já não a sustentava mais. Estava na trajetória de descida. O vento soprava levinho. Mirando a vastidão do céu, tão azul e repleto de nuvens, ela pousou como bailarina. Tocou os dedos na brisa e os pés no chão, para sempre.
Fitava um vôo sem volta, assistindo a partida que estilhaçaria seu coração em segundos. Enquanto pudesse enxergá-lo, permaneceria ali, debaixo de uma tarde amarela.
Sua visão ia ficando úmida. Num piscar de olhos, o ponto que atravessava as nuvens sumiu no céu; as lágrimas escoavam pelos cílios, transbordando dos olhos. O pranto desenhava no seu rosto uma tristeza imensurável. Só conseguiu repetir, para si mesma, bem baixinho:
- Volta...
E lá se foi o balão da menina... cortando a atmosfera, dançando por entre as nuvens e desaparecendo numa imensidão infinita azul-índigo.

3 comentários:

S disse...

Linda descrição... Resta o concolo de que, ao menos, ela tentou! Bjos

Anônimo disse...

lindo, lindo pati! fiquei imaginando a cena, como se fosse uma pintura... daria uma bela ilustração! :)

ArthurGama. disse...

Imaginei um filme em 5000 fps. Ia ficar lindo.